Os Alquimistas Medievais

O conhecimento alquímico é de origem indefinida. São encontradas referências e práticas relacionadas à Alquimia na Pérsia, Egito, Caldéia, China, Índia, entre outras das mais antigas civilizações e culturas de nossos tempos.

Alquimistas Medievais

Entre as possíveis origens do nome Alquimia, estão as palavras árabes ‘Al Khen’, “o país negro”, nome dado ao Egito, a terra ensolarada de Khen, em tempos antigos. Toda a sabedoria egípcia estaria assim ligada ao conhecimento alquímico. A arte de embalsamar, o conhecimento do mundo dos mortos, as ciências atribuídas a Íbis de Thot, são alguns dos exemplos de sua abrangência.

A ciência védica reconhece a relação entre a imortalidade e o ouro, o que levou Alexandre, o Grande, em uma busca frenética durante a invasão da Índia, em tempos do Império Macedônico, pela Fonte da Juventude.

Elementos da Alquimia são presentes ainda no Taoísmo, no mundo islâmico, entre outras culturas e sabedorias. Não é demais citar que o conhecimento alquímico, evidente por seus princípios cósmicos viventes, é autenticamente gnóstico, portanto é atemporal e intrínseco à natureza humana, fundamentado na ciência, arte, filosofia e religião, onde a exclusão de qualquer destas colunas torna-o completamente incompreensível.

Nicolas Flamel Alquimista

Todavia, foi com as obras medievais que o conhecimento alquímico tomou a forma que chega até nossos dias. Paracelso, Nicolas Flamel e Fulcanelli são alguns dos nomes responsáveis por despertar inquietudes no povo europeu durante a negra Idade Média. Da árvore de raízes profundas de nome Alquimia derivaram-se inúmeras ramas da ciência e ainda outras foram grandemente aprimoradas.

A Química, a Metalurgia, a Medicina, a Astrologia, a Psicologia e a Botânica têm uma grande dívida para com os textos alquímicos, dos quais apenas uma parte muito reduzida pode ser utilizada de uma forma prática. Fato este que se deve à carência de profundidade nas interpretações de tais textos. Traduções sensacionalistas, valendo-se de analogias simplistas, envoltas em textos rebuscados e sem substância, abundam como resultado do fracasso na tentativa de compreender esta misteriosa linguagem.

Páginas inteiras escritas com símbolos de planetas; figuras de reis e rainhas durante a cópula, acompanhadas por figuras geométricas; desenhos de bodes, galos e dragões, combinadas com símbolos religiosos; poesias incompreensíveis dispostas em paisagens enigmáticas, são algumas das formas de transmissão de um conhecimento diante do qual a linguagem verbal e escrita torna-se ineficaz e obsoleta.

Simbologia oculta

Para penetrar o conhecimento velado pela peculiar linguagem alquímica, faz-se necessária uma didática diferente das convencionais metodologias de estudo científico, da lógica formal e comparativa. Exige-se do indivíduo a observação profunda, serena, imparcial e não referenciada da dinâmica da natureza interior e exterior ao homem. Somente assim é possível apreender os elementos primordiais que fundamentam o conhecimento alquímico.

Entenda elementos primordiais como os princípios radicais que têm sua expressão ora no mineral, ora no vegetal, ora no animal. As culturas serpentinas encontram em tais princípios as forças conscientivas que governam a criação, reconhecendo-as sob a roupagem de distintas divindades.

Combinação dos elementos - alquimia

A combinação dos elementos primordiais origina as criações no homem, na natureza e no cosmos. O “solv et coagula” é a fórmula fundamental para a transmutação dos metais inferiores em metais superiores e para fabricar o Elixir da
Longa Vida. O “solv et coagula” exige o domínio e o manejo dos elementos primordiais pela vontade consciente do homem, este é o sal da Alquimia. De sua combinação com o mercúrio e o enxofre obtêm-se o cimento da Grande Obra.
O elemento primordial, na figura do metal líquido e volátil de difícil apreensão, do qual os gregos atribuíram seu princípio radical ao deus Mercúrio, tem que ser compreendido em um âmbito mais profundo. O deus Mercúrio do panteão grego personifica elementos antropológicos intimamente ligados à sabedoria, ao dinamismo, à inteligência e à fluidez. O planeta mais rápido do sistema solar foi consagrado ao seu nome. Ele é o mensageiro do Olimpo, que em Roma era chamado de Hermes Trismegisto, cuja substância os romanos associaram
sabiamente ao Íbis de Thot egípcio, esposo de Maat, deus das ciências.

A sabedoria de Mercúrio é a sabedoria de Hermes, que no passado apenas poderia ser transmitida de lábios a ouvidos, sob o juramento do silêncio, em fiança da própria vida, motivo pelo qual as escolas herméticas tornaram-se sinônimo de sistemas fechados, cuja herança linguística chega-nos sob a forma do adjetivo “hermético” para definir sistemas muito bem fechados. Há que mergulhar na sabedoria hermética para encontrar o princípio radical do mercúrio dentro do homem e desvendar os grandes mistérios da Alquimia.

Os mistérios de Hermes-Mercúrio estão sintetizados no caduceu, formado por duas esferas unidas por um bastão, no qual se enroscam as duas serpentes e nas quais se vê o santo oito. Na altura da união superior das serpentes abrem-se as asas de uma águia. Trata-se de um verdadeiro mapa de anatomia oculta do homem, que correlaciona o cérebro com o sexo e indica a ascensão dos fogos genésicos na figura ígnea serpentina, desde a base da coluna, enlaçando o coração até chegar ao cérebro.

O elemento primordial que dá existência mineral ao metal mercúrio é o mesmo que na natureza do homem origina sua semente, cimento da Grande Obra alquímica. Seu princípio radical foi sabiamente sintetizado pelos gregos no símbolo do caduceu.

O Caduceu de Mercúrio

O caduceu encontra-se evidente nas descrições dos alquimistas referentes aos equipamentos necessários no laboratório para a obtenção da Pedra Filosofal. De uma forma muito sintética dizemos que o balão volumétrico onde se deposita o mercúrio e que se aquece com o fogo do enxofre é a esfera inferior do caduceu, o sexo no homem.

A coluna do destilador, por onde sobem os vapores mercuriais, é o bastão central do caduceu, a coluna espinhal do homem com suas 33 vértebras. O condensador que transforma os vapores em ouro líquido é a esfera superior do caduceu, o cérebro, cálice onde se deposita o vinho sagrado.

Pietro Longhi Alquimistas Medievais

Porém, para que o mercúrio converta-se em ouro juntamente com o sal, é necessário um terceiro elemento, o enxofre. O fogo do enxofre, associado às bruxas na Idade Média, bem como os rios de enxofre e fogo presentes nos cenários infernais dantescos, fazem desta substância a fiel herdeira e depositária do fogo, do calor sexual e do diabo. Aqui está o homem, a mulher e a libido.

Os mistérios alquímicos, ainda que enigmáticos, estão muito próximos do entendimento. Porém, para que tal sabedoria transformativa e poderosa se mantivesse imaculada através dos séculos, está escrita com caracteres de fogo, apenas perceptíveis para quem conhece a si mesmo, os seus impulsos íntimos, o que move cada palavra, ação, desejo ou pensamento. Submergindo pelas portas das percepções internas nos elementos primordiais, princípios radicais que formam e dão vida e movimento ao homem, conheceremos inevitavelmente o que forma, dá vida e movimento a toda a criação.

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