Fracos ou Fortes: O Dualismo Universal

É possível observar que tudo no universo pode ser submetido a uma análise dual.

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Há a luz e as trevas, o bem e o mal, as pessoas sempre se classificam em um grupo ou em outro, como certas ou erradas, como ricas ou pobres. A mente humana se caracteriza por trabalhar entre a tese e a antítese, está sempre ocupada em classificar as coisas e as pessoas. O perigo está na interpretação distorcida que cada indivíduo dá a estes dois lados. Raramente consegue vislumbrar que são dois lados de uma mesma moeda, ou seja, a realidade é uma só, porém é possível sempre vê-la sob dois aspectos, que não são opostos, mas sim complementares. 

Ser forte ou fraco, é uma escolha feita frente a cada circunstância

Partindo desse princípio temos que um indivíduo opta por ser forte ou fraco. O que vem a ser forte? Temos diversos estereótipos para designar uma pessoa forte. O super-herói, a pessoa rica que pode tudo (ou quase tudo), o guerreiro, entre outros. Estes são alguns dos clichês mais conhecidos de força. A psicologia gnóstica define que cada um tem a opção de ser forte ou fraco, é uma escolha feita frente a cada circunstância que a vida apresenta. Não se trata de atributos genótipos ou fenótipos, a verdadeira força vem de uma definição psicológica. É equivocada em sua origem a máxima de que o homem que domina aos demais é forte, de que aquele que impõe sua vontade a outrem é forte. 

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A verdadeira força vem do domínio de si mesmo, do desenvolvimento de uma vontade férrea. Assim, forte é aquele que é capaz de calar-se frente a um insulto ou uma agressão, que é capaz de não reacionar diante das contrariedades do diário viver, que desenvolve uma disciplina através de um trabalho psicológico sobre si mesmo, de forma consciente.

A fraqueza que muitos supõem ser de caráter meramente físico e perceptível a olho nu, se submetida a uma análise mais profunda, encontramos suas raízes no medo, na dependência psicológica, no sentimentalismo, etc. O fraco não é aquele que se submete a vontade do outro, mas sim aquele que não tem consciência do que se é, de onde se está, do que está fazendo: esta é a verdadeira fraqueza. Ela reside na mecanicidade, na falta de autoconhecimento e, consequentemente, autocontrole. O verdadeiro sábio é forte porque compreende todas as coisas do universo, sem a necessidade de mudar absolutamente nada, a não ser a si próprio. 

Quem se torna forte se torna livre

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Todo aquele que se torna forte, consequentemente se torna livre, não pode mais ser manipulado pela mídia, pela política, pela economia, pela família, por amigos ou qualquer outro tipo de sistema. Talvez por isso insistam tanto em difundir um falso conceito do que é força, para que as massas permaneçam fracas e manipuláveis.

Tornar-se forte é algo que se dá pela emancipação da vontade, que só é possível mediante o processo denominado de morte psicológica, que nada mais é do que a eliminação dos defeitos que o ser humano leva em seu interior e que são a causa de tanto sofrimento e de toda sua fraqueza. 

As civilizações antigas nos deixaram um legado muito rico que exemplifica bem isso que é ser forte e fazer-se um triunfador. Na saga do Bhagavad Gita, o guerreiro Arjuna tem de travar uma grande batalha de vida ou morte contra seus próprios parentes (simbolismo daquilo que ele mais ama) para que possa fazer-se verdadeiramente forte. Esse grande exército contra o qual Arjuna luta, orientado por Krishna (simbolismo da consciência do guerreiro), simboliza a multidão de defeitos psicológicos que prendem Arjuna a dura rocha das paixões humanas, causa primordial da sua fraqueza.  Segundo o Bhagavad Gita, a verdadeira força reside em tornar-se senhor de si mesmo. 

Aquele que se torna forte triunfa sobre sua natureza animal, triunfa sobre si próprio. O triunfo se reveste de três fases:

– Escolha;

– Mudança; e

– Decisão.

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A escolha cabe a cada um, de instante em instante, no dia a dia. É possível escolher entre ser forte, disciplinado, ter uma conduta reta, agindo contra os seus próprios defeitos psicológicos, ou ser fraco, dando vazão às baixas paixões, medos, traumas, preconceitos, orgulho, ira, ódio, etc.

O homem fraco é negligente, ele negligencia a si próprio com um comportamento displicente e mecanicista, a partir da observação desse comportamento pode partir a uma reparação voluntária na sua conduta, a mudança. Para que não se retome o estado anterior de negligência é imprescindível uma decisão firme de permanecer forte. 

Por exemplo, se a pessoa está acostumada a mentir. Fazendo uma análise ela descobre que essa mentira é uma fraqueza, ela mente para ser aceita pelos demais, ou seja, mente por medo da rejeição; ou mente para ganhar dinheiro – medo de passar necessidades; ou mente para não ser humilhada – medo da humilhação, etc. Ao detectar esse comportamento ela resolve que quer fazer-se forte e vencer a mentira, portanto já deu o primeiro passo, fez a escolha. O segundo passo é efetuar a mudança e parar de mentir custe o que custar. Já o terceiro passo, consiste em manter esse comportamento e não voltar mais a mentir, aconteça o que acontecer.

Vale relembrar as célebres palavras de Sócrates, quando já era um grande filósofo e mestre, para surpresa de seus discípulos exclamou: “Só sei que nada sei”. Tal afirmação advém de uma compreensão profunda, de uma grande fortaleza para se assumir como um indivíduo ignorante diante da imensidão do universo. Já não se incomoda em parecer fraco, pois para ele o dualismo deixa de existir e tudo passa a ser um. Aprende a utilizar o intelecto como uma ferramenta e não como um fim em si mesmo. Fortalecer conceitos de nada vale na psicologia experimental gnóstica, tudo se reduz à busca de conhecer-se e transformar-se, fazendo-se forte a alma, a dualidade converte-se em unidade.

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