Celta é a designação dada a um conjunto de povos que se desenvolveu na Europa Ocidental em períodos que antecederam a Era de Áries, Era que emergiu os Grandes Impérios conquistadores, iniciada com a formação do Império Persa, sucedido pelo Macedônico e posteriormente pelo Império Romano.
São Celtas povos tais como os Gauleses, Bretões, Batavos entre outros. A estes é atribuído o início da forja dos metais na Europa, as lendas do Rei Artur, de Avalon, origem dos mitos que posteriormente foram copilados pelos Irmãos Grimm, o cenário de Parsifal imortalizado pela obra de Richard Wagner, entre tantos outros mistérios que se ocultaram entre florestas e castelos.
Ainda que sejam possíveis as especulações a respeito da origem e cultura dos Celtas, muito se perdeu ao longo da história por meio da ação dos povos conquistadores e sobretudo por meio do profundo processo de consolidação do cristianismo que cobriu a totalidade da Europa Ocidental. No período da idade média, manter as antigas tradições, ritos e ritualísticas eram motivos mais que suficientes para condenar-se à própria morte frente o juízo inquisitor.
Já bem antes, como relata Júlio César em “De Bello Gallico”, os próprios druidas, representantes espirituais e conselheiros que em muito influenciavam a organização social Celta, se recusavam a manter registros escritos de sua sabedoria, fossem estes nas formas de mitos, ritualísticas ou códigos religiosos. Sem registros escritos, as formas celtas caíram no imaginário pernicioso de autores, como ocorreu no século XX, que deram origem às mais diferentes interpretações e modificações do que, pelo que indica os poucos resquícios que atravessaram os séculos, foi uma autêntica Cultura Solar.
Beltane e Samhain, marcos dos períodos de Luz e Trevas
O Festival de Beltane e o Festival de Samhain são as principais comemorações remanescentes da cultura Celta. O primeiro indica o início da Primavera e ascenso ao verão, enquanto o último indica o final do verão e ingresso no período de frio e trevas, quando os dias se tornam sucessivamente mais curtos. Em Samhain se encontram grande parte dos mais importantes mitos Celtas, nos quais se verificam as virtudes dos heróis nos períodos marcados pela escassez, privações, pestes, fome e, consequentemente, batalhas. Já em Beltane está o triunfo sobre as trevas, a festa deliciosa, a bem aventurança, a fartura, a beleza feminina e a beleza da Natureza.
O “Festival de Beltane” ainda nos dias atuais é celebrado, embora exista grande discrepância entre os ritos modernos e os antigos. Também conhecido como “Os Fogos de Belenus” ou a “Fogueira de Belenos”, trata-se de uma festa realizada ao redor de uma grande fogueira, onde o povo dança e entoa seus cânticos inundado de alegria e felicidade celebrando a morte do inverno e início do verão.
Belenus é o Deus Celta do Sol, da Luz, do Fogo e da Cura cujo nome significa “Fogo, Luz, Belo, Brilhante”. A festa celebra o amor entre o Deus Belenus e a Deusa Danann. Danann é a Mãe de todos os Deuses, Deusa da fertilidade, da abundância e da terra. Do amor entre Belenus e Danann emerge a fertilidade divina que dá origem a todas as coisas que existem.
Ocorre, também, neste ritual sagrado o Maypole ou Mastro de Fitas. O mastro representa o Falo Sagrado do Deus Belenus, onde são penduradas diversas fitas de cores diferentes. Cada cor representa um atributo da Divina Deusa Danann, que se entrelaçam no cerimonial formando o tear divino. Resquícios deste cerimonial se encontram nas festas juninas nas nações ocidentais do mundo moderno, assim como as comemorações do Halloween são resquícios de Samhain.
Danann, mistérios encerrados na Natureza e na Mulher
Em Danann se encontram as forças telúricas da Deusa Mãe. Assim, a Deusa Mãe, Danann, reúne em seu ventre todos os princípios divinos da Natureza, o que fazia a figura feminina na sociedade Celta, a mulher, soberana no manejo das forças da Natureza.
As forças da fertilidade e da alegria são os alicerces culturais dos Celtas, o que significa dizer que as bases filosóficas da Sociedade Celta se direcionam no sentido de ser felizes e alegres.
“ALEGRIA”, do latim alacer, alacris, rápido, vivaz, animado. Alegria se entende com o estado de ânimo que produz dinamismo, diligência e movimento impulsionados por um bem estar em si mesmo e direcionado para o bem estar dos demais.
“FELICIDADE”, do latim felix, felicis, tem sua raiz etimológica no significado das palavras fértil ou fecundo. Para os celtas as árvores e a própria terra necessitavam ser felizes, ou “Beneficiados pela Fecundidade”. Nas terras celtas era necessário que reinasse a felicidade para que existisse abundância e fertilidade.
Os Celtas encontravam na natureza a eterna mãe. Enchendo de vida todos os dias a todos os seus filhos, preenchendo-os com vitalidade, revitalizando seus corpos com seu sagrado hálito, e dessa forma alimentando-os e animando-os, dando-os seus frutos, através de suas criações, das árvores, das plantas; ofertando seu ventre para que se semeie em seu venerável útero gigantesco; permitindo sentir a alegria de Belenus, astro-rei, em cada amanhecer e a paz e a mística em cada noite que chega quando se apresenta a misteriosa rainha, a Lua.
As divindades femininas, portanto, eram relacionadas aos atributos próprios da Natureza, enquanto as virtudes eram atribuídas às divindades masculinas.
Deuses e Deusas Celtas, forças além das formas
À beleza e perfume das flores, aos frutos, ao frescor do ar e demais atributos da Natureza eram associados às Divindades Femininas, particularmente os rios tais como o Rio Boyne, em Leinster – Irlanda, cuja Deusa é Boann. Uma curiosa particularidade dentre a sabedoria celta é que as divindades não possuem formas ou representações humanas. São forças existentes na Natureza e não estão presas dentro da forma ou figura. Somente séculos após a consolidação do Cristianismo as antigas lendas e tradições celtas foram escritas e, por influência cultural, foram atribuídas imagens a algumas divindades. Assim, os trovões e relâmpagos eram os próprios deuses manifestados, sem a necessidade de aparições ou visões de formas humanas para confirmar a presença divina.
Quanto aos Deuses Masculinos, estes se manifestavam por meio das virtudes humanas. De igual maneira, não possuíam imagens humanas, a presença divina masculina para os celtas é a própria manifestação da virtude. Inteligência, força, velocidade, habilidade são próprios das divindades masculinas. Assim, o lendário Lugh irlandês, fazia-se presente nas batalhas e caças, permitindo aos guerreiros ferir mortalmente seu alvo por meio de uma lança. Dagda, associado ao caldeirão, é possuidor de imenso poder, capaz de tirar a vida com uma bolha e com a mão devolvê-la.
“Virtude”, um atributo divino, tem com radical a partícula “vir”, o mesmo de “virilidade”. Não ignorava a sabedoria Celta a profunda relação que existe entre as forças fecundantes da natureza, o divinal e a genialidade humana!