A Ilusão dos Sentidos

Uma pergunta frequente assola a mente do inquieto investigador das grandes verdades: “será mesmo real isso que se apresenta diante de mim?” Ou “coincidirá com a verdade isso que meus sentidos conseguem perceber?”

Essa perturbadora indagação tem motivado os mais nobres pensadores e os mais transcendentes espiritualistas.

O Mito da Caverna

Platão, referência exponencial da filosofia, relatando o diálogo entre Sócrates e Glauco, em seu mito da caverna, talvez tenha sido aquele que mais esmiuçadamente procurou instruir sobre a questão; alegorizando-a neste conto em que prisioneiros, por gerações encarcerados em uma caverna, acorrentados e voltados para o fundo da mesma não viam mais que as sombras do mundo exterior projetadas na parede do fundo dessa sua prisão.

Como não conheciam outra coisa, tomavam as sombras como realidade, a projeção dos objetos por eles próprios.

Porém, não apenas ele o fez, os hindus usam o termo Maya, que significa Ilusão, formas mentais que cedo ou tarde se dissiparão, para designar a esse mundo em que se vive.

Por que grandes seres, grandes culturas, distantes em local e época, ainda que de diferentes maneiras, procuram passar essa mesma mensagem? Coincidência!? O autêntico investigador não se satisfaria com essa resposta!

O processo da visão, sentido que para a maioria das pessoas significa aproximadamente 70% da forma de se perceber o mundo, realmente vale a pena ser analisado para ilustrar melhor a questão.

Quando nosso olhar se volta para uma mesa, por exemplo, não poderíamos dizer que a mesa está dentro do nosso cérebro, mas a imagem da mesa sim está.

Mas isso são apenas trivialidades para ilustrar e fazer entender o conceito de algo muito mais abrangente e mais prático que é o ponto central: o real para nós são as impressões que obtemos do mundo exterior.

Citando Emanuel Kant, grande filósofo alemão: “A coisa em si, ninguém vê!”; já que não são “as coisas” que adentram a nossa mente, mas sim as impressões delas.

A vida de uma pessoa em si é uma sucessão de impressões, e não algo físico de tipo exclusivamente material, já que a realidade da vida são suas impressões.

Portanto, se a vida chega até nós através de impressões, é aí que está a possibilidade de trabalhar sobre nós mesmos transformando nossa realidade para melhor.

Mas que interesse há em transformar as impressões de um objeto como uma mesa ou a cor em que ela se apresenta? Obviamente, esses são tipos de impressões neutras que não demandariam maior esforço de nossa parte. Mas o que dizer das palavras de um insultador? Assim como no primeiro caso essas palavras não passam de impressões, mas essas sim seriam interessantes de serem transformadas, correto?

Transformação das Impressões

Vejamos que as palavras são como são, estas em si, não é o que pretendemos transformar e nem estaria ao nosso alcance, mas as impressões que elas causam em nosso interior sim podemos transformar.

Mas como fazê-lo? Através da compreensão.

Nesse caso, percebendo que as palavras de um insultador não têm mais valor do que aquele dado pelo insultado, se este não lhes dá valor, tais palavras ficam como um cheque sem fundos. Uma máxima diz: “não somos mais porque nos elogiam nem menos porque nos vituperam”. Dessa forma, nem as impressões de críticas nem as de elogios deveriam nos abalar.

Toda impressão em nós causa algum tipo de reação.

Ao obtermos a impressão visual de um objeto, nossa mente reage atribuindo características ao mesmo: é de tal formato, de tal cor, serve para tal finalidade, etc.

Ao recebermos as impressões auditivas de um insulto também existe uma reação, talvez insultar de volta ou talvez guardar uma mágoa, etc.

Ao receber a impressão de uma atraente pessoa do sexo oposto e não transformá-la adequadamente, pode-se reagir com luxúria ou inconveniência, incorrendo em uma cena constrangedora, de ciúmes, adultério, etc.

As reações podem ser trabalhadas, mas esse já seria um segundo momento, mais interessante seria que essas impressões fossem trabalhadas e transformadas em algo melhor já no momento de sua entrada, evitando assim reações de tipo negativo e suas nefastas conseqüências.

É possível transformar ou digerir essas impressões no momento que adentram em nós conhecendo e manejando sabiamente o que em nós é capaz de fazê-lo: nosso aparato psíquico.

Assim como os alimentos sólidos e líquidos ao adentrar a nosso organismo passam por uma transformação no estômago e demais órgãos do aparato digestivo, assim como o ar é processado em nossos pulmões, também as impressões têm seu local para serem transformadas, esse é o nosso cérebro, assento da mente.

Assim, no controle de nossos processos mentais, poderíamos encaminhar as impressões de um insulto para o intelecto e não para o emocional, transformando racionalmente as impressões das palavras de um insultador em compreensão para com ele se suas palavras não são verdadeiras ou em agradecimento por nos alertar de um defeito que não havíamos percebido. Livrando-nos, com isso, de reações instintivas e emocionais descontroladas. Aí então poderíamos, inclusive, compreender e praticar aquele grande postulado: “receber com agrado as manifestações desagradáveis de nossos semelhantes”.

E assim para inúmeras situações da vida cotidiana, de todo modo, guiando nossa vida de maneira mais equilibrada e compreensiva, no tangente a todo tipo de evento e suas respectivas impressões.

A Gnosis estuda amplamente o desenvolvimento da consciência e a influência e utilização da mesma para essa finalidade e outras mais, onde se passa a educar seus sentidos, perceber o real da vida, mais além do que ditam as convenções de uma sociedade prisioneira convicta de seus sentidos limitados, vislumbrando um mundo novo de sons e de matizes, sabedoria, compreensão e regozijo da verdade, mais além da ilusão da mecânica rotineira.

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